O garoto que eu gostava


O GAROTO QUE EU GOSTAVA





Eu gostava dele. Gostava do jeito mais sincero de se gostar. Não era idéia mera, e sim um simples fenômeno sem razão de ser! É estranho como as coisas da vida tomam forma, contornam sua trajetória dando um rumo ao seu caminho sem perguntar para onde se quer ir.

 Foi assim comigo,

 Foi assim com ele

E será assim, há de eterno

Até mesmo quando o sempre deixar de existir.



Eu nunca quis gostar dele, nem sequer o conhecia. Não pedi pra encontrá-lo naquela manhã, jamais imaginei que fosse falar comigo, mas foi o que se sucedeu.O tempo se encarregou de cruzar nossas vidas, deixando que tudo se transformasse em lembranças, as lembranças se alojassem no peito florescendo assim, o sentimento.

Lembro - me como se fosse ontem

 Da primeira vez que o vi chamar por meu nome,

 de quando riamos de uma coisa sem a  menor graça.

Ah !Como eu gostava!

Estar do lado dele era ver o mar encostar ao pé do horizonte.

Era perder o norte,

Um desorientar da orientação!

E assim o tempo foi passando

o mundo em sua órbita

E tudo era estático.

Todo dia ele se despedia

 Com um simples "Até amanhã”

 e eu lhe respondia da mesma maneira . Mas minha mente aturdida se atrelava ao som estridente dessas duas palavras



       Até quando ele irá me dizer somente “Até amanhã”?

  Até quando vou tocar seus lábios apenas ilusoriamente?

Até quando vou avistar seu rosto dentre as milhares de faces que passam por mim?

Até quando? Até quando?

         Assim os dias transcorriam e eu corria atrás deles num descompassar dos passos lamuriantes

Foi na festa de carnaval que as máscaras emaranharam-se e a dele foi abrigar-se longe da minha e se aconchegar no colo de outra.

E então a voz do meu gostar calou-se completamente. Cessou o sorriso e o sonhar.

         Em uma última noite eu não pude nem me despedir e confessar. E ao partir ele não me disse nada, apenas foi. Não diria nada, pois se dissesse seria "Até amanhã", mas já não poderia pronunciar esta frase porque o amanhã já não caberia de existir.

Ana Carolina Alencar

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